ela:
vesti-me de noite
início de madrugada
dancei-te na pele
arrepiada...
cobri-te de suspiros,
pequenos delírios
e fomos um só respirar!
despiste-me da noite,
e a tua mão foi estrela,
caindo cronometrada
pouco a pouco
silêncio a silêncio
a minha pele
era a tua confundida
soltaste a voz,
e eu vesti a noite outra vez!
ele:
falas,
mas não sei o que dizes,
as tuas palavras não entendo!
sirvo-te meu corpo estremecido...
no arrepio do teu sedento beijo!
falas,
e é como se a noite falasse,
porque não vislumbro
esse teu abecedário,
não percebo a dor
com que me arrancas o prazer!
desce o meu corpo sobre ti,
qual madrugada!
tenho-te ao colo,
louca deusa transpirada
e num murmúrio, suspiras:
- morri!
ela:
escrevo palavras que fui
no teu corpo
assim me despeço de mim,
e assim me saúdo de novo
meus dedos
provarão da tua saliva
e não mais sairei da minha pele
será ela a secar
o teu suor,
terei rente ao peito
a tua carne,
e a tua mão...
serei a taça
e tu o vinho...
minha pernas,
teu caminho...
e um beijo calará a noite!
ele:
por entre o fumo
deste cigarro
observo as tuas linhas, curioso
estás deitada na cama,
os olhos fechados para a luz
certamente abertos
para outro mundo qualquer!
não são linhas perfeitas,
as tuas...
mas estremeço
em cada uma delas...
perco sempre nelas a minha mão
sedenta de te tocar
teu corpo chamou!
acabo o cigarro
assalto essa pele
que pela minha clama,
beijo teu peito, e as mãos em chama
arrefecem juntas pouco depois!
ela:
escondi meu poema
debaixo da cama
espreitava curioso
a voz sussurrante,
gargalhava baixinho
e assobiava devagarinho
o vai do meu corpo
no vem do teu...
quando os corpos caíram
o meu para um lado,
o teu para o outro,
o meu poema morreu...
ele:
olhei-te nessa nudez tão frágil!
lágrimas cobriam-te o rosto...
eram serenas, silenciosas!
aproximei-me
e olhei-te nos olhos, interrogativo
nunca te encontrara
despida da habitual loucura
sem me aperceber do que fazia
sequei as lágrimas num beijo,
e questionei:
- que fiz eu?
sorriste melancolicamente:
- tu? tu não fizeste nada...
o meu poema é que morreu!
segunda-feira, 6 de junho de 2011
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