segunda-feira, 6 de junho de 2011

diálogo dos amantes

ela:
vesti-me de noite
início de madrugada
dancei-te na pele
arrepiada...

cobri-te de suspiros,
pequenos delírios
e fomos um só respirar!

despiste-me da noite,
e a tua mão foi estrela,
caindo cronometrada

pouco a pouco
silêncio a silêncio
a minha pele
era a tua confundida

soltaste a voz,
e eu vesti a noite outra vez!


ele:
falas,
mas não sei o que dizes,
as tuas palavras não entendo!

sirvo-te meu corpo estremecido...
no arrepio do teu sedento beijo!

falas,
e é como se a noite falasse,
porque não vislumbro
esse teu abecedário,
não percebo a dor
com que me arrancas o prazer!

desce o meu corpo sobre ti,
qual madrugada!

tenho-te ao colo,
louca deusa transpirada
e num murmúrio, suspiras:
- morri!


ela:
escrevo palavras que fui
no teu corpo
assim me despeço de mim,
e assim me saúdo de novo

meus dedos
provarão da tua saliva
e não mais sairei da minha pele
será ela a secar
o teu suor,
terei rente ao peito
a tua carne,
e a tua mão...

serei a taça
e tu o vinho...
minha pernas,
teu caminho...

e um beijo calará a noite!

ele:
por entre o fumo
deste cigarro
observo as tuas linhas, curioso

estás deitada na cama,
os olhos fechados para a luz
certamente abertos
para outro mundo qualquer!

não são linhas perfeitas,
as tuas...
mas estremeço
em cada uma delas...
perco sempre nelas a minha mão
sedenta de te tocar

teu corpo chamou!
acabo o cigarro
assalto essa pele
que pela minha clama,
beijo teu peito, e as mãos em chama
arrefecem juntas pouco depois!


ela:
escondi meu poema
debaixo da cama

espreitava curioso
a voz sussurrante,
gargalhava baixinho
e assobiava devagarinho
o vai do meu corpo
no vem do teu...

quando os corpos caíram
o meu para um lado,
o teu para o outro,
o meu poema morreu...


ele:
olhei-te nessa nudez tão frágil!
lágrimas cobriam-te o rosto...
eram serenas, silenciosas!

aproximei-me
e olhei-te nos olhos, interrogativo
nunca te encontrara
despida da habitual loucura

sem me aperceber do que fazia
sequei as lágrimas num beijo,
e questionei:
- que fiz eu?
sorriste melancolicamente:
- tu? tu não fizeste nada...
o meu poema é que morreu!

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